terça-feira, 29 de julho de 2008

Um dia sem amigos

No dia em que eu morrer, quero voltar para o meu funeral.
E quero que tenha muita gente feliz e que mais felizes ainda estejam os meus amigos.
Volto com sorriso de verdade, com a alma leve, com muita alegria, muita saudade e com a sensação de dever cumprido.
Afinal, é o meu fim e meu início.
Fim desta vida, que só soube viver na companhia de amigos, começo de outra, distante deles.
É.
A-mi-gos.

Existe um zilhão de clichês para se falar da amizade: em forma de prosa, de poesia, de música e piada.
Existe até o da pieguice que enche a boca para falar que "você é meu amigo de verdade" ou "você é meu melhor amigo". Não, não...tem melhor: "seremos amigos pro resto da vida".

Amigo de verdade. Amigo de verdades. Amigos até o fim, na verdade.

O que seria de mim sem meus amigos? Como teria sobrevivido sem eles?
Vejo e reconheço que tudo o que tenho, por mais distante que eu esteja da lembrança inicial deste tudo é DEVIDO aos amigos.
Amigos você faz mas também cria (lembrei de outra máxima: "amigo você não faz, você reconhece") e cuida - como se fosse alguém de sua família (e não é?)

E quando me perguntarem se o que valeu a pena foi ter feito amizades vou me ofender e brigar dizendo que SÓ valeu viver por isso!

Mesmo sem saber se meus amigos me amam (e alguns não amam); mesmo amando-os de forma egoísta e ciumenta (e o faço); mesmo errando na forma de ser amigo (e fazemos); mesmo confundindo os sentimentos e sentindo ódio, inveja, amor, paixão, ciúmes (e talvez por isso mesmo) vou declarar que vivi esta vida para ter amigos.

Não sei se sou um bom amigo. Não sei se sei ser amigo. Não sei se sou amigo.
Não sei onde começa uma amizade e onde termina um amor.
Não sei se é só amizade quando amo. Não sei se meu amor é só amizade.
Não sei quantos amigos eu tenho. E números não são importantes quando se fala de amizade, aprendi.

Escolhi que na minha vida não vai faltar essa palavra: amigo.
Assim como escolhi como verdade que a amizade é o único sentimento que comporta amor, paixão, tesão, companheirismo e tudo o que isso acarreta de bom e ruim.
E que é isso que move a vida.

Então quando eu morrer vou lembrar de todos eles e vou chorar de saudade de todos eles.
Quando ouvir as músicas que me levarem para longe desta vida e perceber que eles estão se divertindo ou sofrendo, vou estar com eles lembrando e revivendo as loucuras, os beijos, os abraços (os abraços!), as confissões, as conversas, as brigas, os choros, as porradas, as canções.

Amigos você pode contar em uma mão.
Mas, mesmo assim, com um pé atrás. Afinal, você trai e é traído por amigos.
E nem percebe o quão tolo é por, às vezes, se importar com bobagens que só acontecem por haver a tal da amizade.
Você perdoa um deslize mesmo tendo jurado que "aquilo foi a gota d'água!" e que "nunca mais fala com ele".
Você é infantil a esse ponto, mas só percebe depois que é sempre muito bom voltar a ser criança com os amigos.

No dia em que eu morrer vou voltar para os amigos como lembrança.
E quero morrer antes deles.
Antes que eles me façam sentir saudades.
Saudades de instantes vividos ao lado deles.
E vou perceber que todos esses instantes só foram assim por eles estarem do meu lado.
E eu que não acredito na felicidade vou concordar que ela também cabe ao lado de amigos.

P.S.: Relendo este post, percebi que há uma constância das palavras amizade, verdade, saudade e felicidade. Foi sem querer, mas deve querer dizer alguma coisa.

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