quinta-feira, 17 de julho de 2008

Batman


Confesso.
Sou nerd.
Mas, nem tanto.
Um pouco menos que o considerado "NERD" pelos outros.

Nerd, na minha infância era o garotinho inteligente da escola, que tinha poucos amigos, bem estereotipado, que usava óculos, tinha poucos amigos (outros nerds como ele), não pegava mulher, era preterido pelos colegas de classe e muito querido pelos professores, que sabiam coroá-lo, geralmente, com notas altíssimas e exposição humilhante aos alunos medíocres que não estavam nem aí - preferiam pegar mulher.

O nerd não fazia educação física. Não praticava esportes. Não jogava bola. Talvez até levasse merenda, de casa. E, nas horas vagas, lia revistinha. Em quadrinhos. Gibis. De super-heróis.

Hoje o nerd mudou. Na verdade, o nerd cresceu. Continua sendo o mesmo, muito inteligente, "pratica" informática melhor que qualquer outro pega mulher, é viciado em séries de tevê (e filmes e desenhos sobre personagens que adorava na infância). O nerd de hoje expandiu seu domínio além de séries e filmes (contemporâneos e do passado, já que com as facilidade de se baixar nostalgia pela internet, é possível voltar no tempo): ele coleciona tudo o que pode desta séries (dvds, brinquedos, trilhas sonoras, o diabo) e têm blogs, onde falam sobre isso.

O nerd sempre foi feliz, apesar de viver à margem de uma sociedade sarada, pegadora e que nunca deu a mínima para o mundo delicioso em que esses caras estranhos estavam metidos.

Pois bem.

Eu nunca fui um nerd na concepção estrita acima digitada. Ok,ok. Também nunca fui um pegador.

Lembro que uma vez todos meus amigos foram para uma excursão para uma praia deserta e eu preferi guardar meu dinheirinho economizado para comprar um álbum de figurinhas. Ou uma revista do Batman.

Lembro também que outros amigos foram passar férias também numa cidade praiana e, como não fui convidado (eu também não jogava futebol...) mergulhei num releitura de gibis clássicos que já formavam minha vasta coleção. "Batman - O Cavaleiro das Trevas", do Frank Miller, encabeçou minha leitura veraneia. Era a quinta vez que lia...

Desde que as histórias em quadrinhos deixaram de ser coisa infantil (ué? Você não sabia?), fala-se e explora-se muito os famosos super-heróis que você hoje vê em embalagens de cereais, sabão e pó e até refrigerantes. Não há limites para o mundo dos heróis. Ou para o marketing por trás dessas marcas, verdadeiros símbolos do mundo pop atual, onde, quando você encontra um morcego e diz, "Olha o Batman!", corre o risco de ter de pagar por direitos autorais à Warner e DC Comics, "donas" de alguns personagens como o Homem Morcego, empresas que são coordenadas por aqueles nerds ignorados lá do primeiro parágrafo...

Pois na minha época não era assim, não. Ou se era, e não via, não me atingia. Afinal eu queria era ler histórias e histórias. E li muitas. Talvez, as melhores da minha vida. Ninguém me contou. Eu ia lá, lia e viajava com o que os desenhistas e roteiristas faziam com aqueles personagens.

O que eu buscava, lendo obras como "A piada mortal" e "Watchmen", do Allan Moore e a já citada "O Cavaleiro das Trevas", entre muitas outras, era aventura. Encontrava isso e muito mais.

Escapismo?

Sim.

Mas o que encontrava, era algo muito maior que você só vai saber se ler. Isso se você tiver a mente aberta de uma criança de 10 anos e souber apreciar bobagens como honradez, respeito à vida humana, respeito ao outro, gentileza...heroísmos. Mas, acho difícil você saber o que é isso nos dias atuais. Isso é coisa de criança.
O mundo de hoje não permite histórias infantis. É chato, mal, sério, cinza, violento, egoísta, dominado por nerds malvados - que não pegam mulher e descontam nos outros - e nerds que só pensam em ganhar sobre você. Continua vivendo da aparência sarada - forte, mas frágil e triste.
Não sei se há espaço para heróis.


Esse post era para ser sobre o Batman. E no fundo é. Basta olha por aí e ver o quanto precisamos de Batmen nessa Gotham City global e maluca que o mundo virou.



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